No passado dia dezessete de junho, centenas de milhares de brasileiros se manifestaram contra o acréscimo do transporte público. Nesse mesmo dia, encontrei-me com Neuza Nascimento, brasileira. Reside em Parada de Lucas, uma comunidade de favela, ao norte do Rio em que vivem em torno de 30.000 pessoas. “Quando meu filho tinha onze anos, queria ir a um baile funky”, conta Neuza.
“Essa dança é o único evento social da comunidade. As garotas vão ao barbeiro, os caras são arranjados para participar….contudo eu achava que não era um ambiente para moças”. Diante da aplicação, o acompanhou. Em sua segunda partida, dessa vez a um centro comercial, Neuza lhes exigiu uma redação como pagamento.
As meninas aumentaram de forma acelerada: de 8 a 45 em somente um par de passeios. Neuza conseguiu um acordo para que o ônibus e a entrada para o centro cultural fossem gratuitos. Ao mesmo tempo, começou a ministrar oficinas de trabalhos manuais e a ensiná-los a escrever, porque “sabiam pôr frases, todavia sem sentido qualquer.
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Comecei a colocar desenhos entre elas. Minha tarefa não era avaliá-los, entretanto ajudá-los a expressar-se corretamente”. O teatro, por tua vez, serviu-lhe para imprimir civismo e cidadania: “Sempre colocava como protagonista uma criancinha numa ocorrência de vulnerabilidade e fazia-lhes dúvidas.
Assim, eles aprenderam que a dureza ou o excesso de poder estavam mal”. Quando o jornalista de Radio3 Anjo Carmona entrou na residência de Neuza um verão de 2011, CIACAC, neste instante era um projeto com identidade própria. Recebia voluntários estrangeiros desde 2008, as oficinas eram geridos por formadores e Neuza dedicava-se às tarefas de gestão e administração, por este oásis no meio das favelas. “Ao cruzar o limiar da residência de Neuza tudo muda. Há um mundo distinto de portas para dentro”, diz o Anjo. Arena lá como parcela de um projeto da ONG Pandora destinado a transportar os pcs, mas, também, se propôs a socorrer com o que mais a sua paixão, a música.
Foi feito com uma guitarra, a marca Gibson lhe deu outra e, quando se pretendeu conceder conta, de 20 criancinhas esperavam que entrassem em tuas aulas. Foi por causa guitarra de Anjo, o entusiasmo dos alunos e a colaboração dos moradores de Parada de Lucas como nasceu Leaozinho, a agregação dentro do CIACAC, que promove o aprendizado pela música.
” Porque, embora estes cariocas vivem cercados de corrupção e criminalidade, iniciativas como a da Neuza lhes transformam em um coletivo e dinâmico unido: “Quando nós íamos, não conhecíamos ninguém que pudesse relevarnos”, explica Anjo. “Um dia eu comecei a tocar nas escadas da casa de Neuza, apareceu um senhor e me disse que seu filho assim como sabia tocar guitarra”.
O filho chegou no dia seguinte, acompanhado de um colega. Em poucos dias, correu a voz e mostraram-se espontaneamente 7 professores dispostos a formar a 23 meninas. “Já em Madrid, decidi com Nuria Dillán (também envolvida pela Ciacac) elaborar uma associação para remunerarlos”.